Travessia de Ilha Grande a pé, no Rio de Janeiro
Coloquei na minha cabeça que eu amava trekking, programas “roots” e aventureiros e dei um jeito de colocar minha amiga Lena no barco. O resultado foram duas viagens inesquecíveis: A primeira foi para Chapada dos Veadeiros, mas a mais desafiadora foi definitivamente para Ilha Grande.
Já conhecia a ilha de uma visita rápida uns anos atrás, mas dessa vez fomos com o objetivo de fazer a travessia de metade da Ilha Grande a pé, partindo da Vila do Abraão, até a praia de Aventureiro.
Fomos no feriado de Corpus Christi, só 4 dias, sendo 3 deles de muita caminhada e cada passo valeu muito a pena!
Chegamos em Angra dos Reis (RJ) de madrugada. O ônibus saindo de São Paulo leva umas 6 horas no trajeto. Compramos o barco pra Ilha Grande na rodoviária mesmo, mas também tem muitos barqueiros oferecendo a viagem no píer.
O preço é equivalente, mas cuidado com os barcos muito lentos porque você pode acabar perdendo 3 horas no barco, enquanto as lanchas fazem em meia hora. Saindo da rodoviária fomos direto para o escritório da AngraTur pegar nossa pulseirinha que libera a estadia na praia de Aventureiro. Não tem que pagar nada, apenas apresentar os documentos.
Travessia de Ilha Grande a pé – Dia 1
Pegamos a lancha e às 10 da manhã já estávamos prontas para começar nossa aventura na Vila de Abraão. O primeiro desafio foi encontrar um lugar para ficar. Decidimos dormir a primeira noite em um hostel, economizando assim as costas para os dias de travessia.
Encontramos vaga no Hostel do Holandês e foi um achado incrível: por R$45,00 por pessoa ficamos em um chalezinho lindo, com direito a um café da manhã de primeira. Deixamos nossas coisas e partimos para primeira trilha da viagem, até a praia de Lopes Mendes, passando por Palmas, Pouso e Sto. Antônio.
Essa trilha leva entre 2:30h e 3 horas, a intensidade é moderada. Fomos em um ritmo bem tranquilo, parando nas praias do caminho para entrar no mar ou tomar uma água de coco.
A praia de Sto. Antônio é uma bifurcação entre Pouso e Lopes Mendes. Fomos para lá primeiro e não nos arrependemos. Sto. Antônio é uma praia bem pequena, entre pedras, de areia branquinha e água azul cristalina, e ainda por cima tivemos a sorte de encontrá-la completamente deserta!
Depois de lá seguimos para Lopes Mendes, que é uma praia comprida, cercada de coqueiros. Na volta paramos em um restaurante flutuante em Palmas que é uma delícia, mas bem caro (quase R$50 uma porção pequena de camarão).
Decidimos voltar pra Abraão de taxi boat, que custa R$25 por pessoa e é bem rapidinho, mas também tem a opção de pegar um barco (R$15) que vai mais devagar, ou para os mais bem-dispostos, fazer a trilha de volta! Ganhamos um super presente na viagem de volta: um grupo de golfinhos nadando e pulando felizes ao redor da nossa lancha.
A noite aproveitamos para passear pela Vila de Abraão, tomamos uma cervejinha com o pessoal do hostel, pegamos algumas dicas sobre a trilha do dia seguinte e jantamos um yakissoba em um restaurante super bonitinho.
Voltamos cedo para dormir, porque precisávamos estar 100% para o dia seguinte, pois faríamos a maior parte da travessia de Ilha Grande: de Abraão até Parnaioca, passando por Dois Rios.
Travessia de Ilha Grande a pé – Dia 2
Acordamos cedo no dia seguinte para evitar o sol quente, tomamos um café da manhã reforçado, fechamos nossas mochilas e partimos pelo atalho que nos indicaram no dia anterior.
A parte da trilha de Abraão até Dois Rios é por uma estrada, então o nível de dificuldade é fácil, mas leva umas 4 horas, então recomendaram pra gente um atalho que economiza meia hora, mas vai por dentro do morro.
Olha… o atalho realmente economiza tempo, mas o nível de dificuldade é alto, a trilha é bem íngreme e fechada, com uma mochila de 10kg nas costas contamos bastante com a ajuda dos nossos bastões (walking sticks – tínhamos só 1 par, e cada uma usou um).
Dois Rios é um sítio de pesquisa marinha da UFRJ, antigamente lá funcionava uma prisão que hoje está desativada. Tem algumas casas na vila, mas nenhum comércio ou restaurante.
Já tínhamos nos informado sobre isso e sabíamos que algumas pessoas vendiam comida na praia. A praia é grande e muito bonita, encontramos o senhor que preparava Prato Feito (arroz, feijão, salada e peixe frito), estávamos morrendo de fome e o prato veio gostoso e bem servido, mas demorou meia hora.
Aproveitamos a espera para curtir um pouco a praia e descansar. No fim da praia, para a direita, desemboca um riozinho de água gelada que é bem gostoso.
Descansadas e bem alimentadas começamos a segunda etapa da travessia até Parnaioca. Foram 4 horas em mata fechada, sem cruzarmos com mais ninguém, com direito a macacos Bugio, mosquitos e muita superação. Esse trecho da travessia é realmente muito difícil e a sensação é de que não tem fim – isso porque nós não tínhamos nenhuma preparação.
Ou seja, preparem o psicológico e aceitem: vai ser um desafio. Mas acaba e vale cada gota de suor e cansaço. Chegamos em Parnaioca bastante estressadas e mau humoradas pelo cansaço, mas quando pisamos lá e entramos naquele mar, brindadas pelo pôr do sol, tudo passou.
A trilha acaba diretamente em um Camping, e ficamos por ali mesmo. Tem outros campings na praia que nem chegamos a ver porque além do cansaço, aquele tinha um espaço lindo, banheiro bom, cozinha, tudo que precisávamos e fomos muito bem recebidas.
Montamos rapidamente nossa barraca, antes de escurecer, tomamos banho e pedimos uma bem merecida cerveja pra aproveitar o friozinho da noite. Nossa provisão de comida consistia em quilos de amendoim e barras de cereal, então fomos salvas por um pescador que também estava no camping e nos ofereceu um miojo (como não pensamos nisso?). Capotamos felizes em nossos sacos de dormir!
Travessia de Ilha Grande a pé – Dia 3
A manhã seguinte passamos curtindo a Parnaioca: praia de águas calmas e transparentes. A moça do camping nos emprestou um snorkel e fomos até a ponta esquerda da praia em busca de peixinhos.
Combinamos com ela que almoçaríamos no camping, então quando voltamos havia um PF nos esperando. Comemos, desmontamos o acampamento e nos preparamos para a última etapa da travessia, até a praia de Aventureiro, cruzando as praias do Sul e do Leste.
Para essa etapa é importante levar muita água, pois todo o trajeto pela praia não tem nenhuma sombra, nem fonte de água doce. Também esteja atento à maré, o meio pra fim da tarde é uma boa hora pra passar por ali. A primeira parte é uma trilha por dentro da montanha, de intensidade moderada, que sai do fim de Parnaioca e vai até a Praia do Leste.
Chegando lá fomos caminhando pela praia até o mangue, tiramos as botas para atravessar o mangue morrendo de medo de caranguejos, com água acima do joelho. Felizmente passamos em segurança e chegamos na Praia do Sul. Ambas as praias são lindas, mas fiquei impressionada com a quantidade de lixo que se acumulou na orla, arrastado pela maré.
São algumas horas debaixo de sol, caminhando na areia, até chegar na Pedra do Demo, que separa Aventureiro da Praia do Sul, o cansaço vai batendo com força e já estava desesperada para chegar logo.
Chegando na Pedra do Demo suspirei de alívio, já estava caminhando descalça há algum tempo e tudo que queria era montar a barraca e deitar, mas eu ignorei um fato: a pedra que teríamos que atravessar é a Pedra do Demo. Repito: DO DEMO.
Ela é enorme, muito íngreme, e qualquer escorregadinha você está no mar, com as ondas te jogando contra as pedras, isso sem contar as faixas de água que descem a pedra fazendo dela ainda mais escorregadia e são vários metros nessa brincadeira, portanto todo cuidado é muito importante nesse trecho.
Passada a Pedra do Demo chega-se na pequena Praia do Demo onde alguns surfistas aproveitavam o fim do dia. Cruzamos mais um pedacinho de trilha e finalmente chegamos em Aventureiro.
Ficamos no Camping do Pelé, o mais agitado dali, a infraestrutura é muito boa e há gente de todos os cantos do mundo. De novo montamos nossa barraca e partimos para a sagrada cervejinha com algo pra comer pois estávamos famintas. Ficamos até tarde conversando com o pessoal do camping e combinamos de assistir o nascer do sol na manhã seguinte.
Teríamos que sair bem cedo, umas 4:30 da manhã, para caminhar até a pedra no fim da praia.
O despertador tocou e com muito esforço decidimos não perder esse momento, nos abrigamos, pegamos a lanterna e fomos. Acontece que a pedra no fim da praia era na verdade uma montanha, e quando nos demos conta estávamos semiacordadas ladeira acima, em uma trilha pesada de mais de meia hora.
Olha, valer a pena vale, mas não estávamos preparadas para aquilo, rs. Sentamos no topo da montanha, com vista para toda a praia e aguardamos em silêncio o nascer do sol mais bonito de nossas vidas.
Descendo da pedra queríamos curtir o mar e a praia linda que é Aventureiro, mas antes precisávamos comprar o barco de volta. Como nosso ônibus de Angra pra São Paulo era só às 21 horas pensamos em pegar um barco às 17 horas, para aproveitar todo o dia, mas não havia mais vagas nos barcos do fim da tarde e tivemos que comprar para o meio dia.
Por isso aproveitamos Aventureiro só um pouquinho e logo tivemos que arrumar nossas coisas pela última vez. Mochilas prontas e nos despedimos daquele paraíso com gostinho de quero mais.
São algumas horas de barco até Angra e fomos entre cochilos e admiração da paisagem. Já em Angra sentamos em um restaurante e passamos a tarde comendo e bebendo para matar o tempo, depois mais algumas horinhas no chão da rodoviária e finalmente o ônibus de volta. Da rodoviária pro trabalho e viva a disposição!
Travessia de Ilha Grande a pé – detalhes técnicos
Ilha Grande fica no sul do estado do Rio de Janeiro, no município de Angra dos Reis, portanto para chegar até lá o jeito mais fácil é pegar um ônibus até Angra e de lá o barco até a ilha.
A passagem custa uns R$65,00 cada trecho e o barco por volta de R$40,00 até a Vila de Abraão. Se você for de carro poderá deixa-lo em Angra em algum estacionamento, que deve custar R$15,00 a diária (não entra carro na Ilha).
Lembre-se de que para ir para Aventureiro você vai precisar da pulseirinha da secretaria de turismo de Angra dos Reis: como lá é uma reserva, eles fazem um controle de entrada de turistas. A Secretaria fica entre a Rodoviária e o porto de onde sai o barco e abre às 8h.
Na vila de Abraão a maioria dos estabelecimentos aceitam cartão, mas nos outros pontos não, e não tem caixa eletrônico em Ilha Grande, então, se possível leve dinheirinho vivo a mais, para evitar perrengues. Em Abraão tem muitas opções de alimentação e preços variados, nos outros lugares você vai gastar uns R$25,00 em um PF bem servido (sim, é um pouco caro, mas pense que tudo tem que chegar de barco).
Não fizemos reserva em nenhum camping pois não fomos em alta temporada, mas se pretende ir no verão ou nas férias, vale a pena se garantir, a diária por pessoa é R$30,00. O barco de Aventureiro para Abraão é R$50, tente comprar a volta assim que chegar para poder escolher o melhor horário pra você.
Chovendo no molhado aqui, mas… Lembre-se: nada de tomar água da torneira, leve muita água para os dias de trilha para não correr o risco de ficar desidratado e dá-lhe repelente.
Travessia de Ilha Grande a pé – O que levar
Nosso Check-list:
- saco de dormir
- casaco moletom pois a noite esfria
- barraca leve
- tapete isolante
- lanterna
- meias
- biquíni
- garrafa d’água
- bastão
- comidinhas (amendoim, barras de proteína, miojo)
- toalha de microfibra
- botas de trekking
- filtro solar
- repelente
- boné
- nécessaire básica
- roupas leves
- dinheiro vivo
- canivete
- papel higiênico
- lenço umedecido
- chinelos
- documentos
Leve só o necessário pois você quer a mochila o mais leve possível. A nossa ficou em 10kg mais ou menos, e somos pequenas.
Boa travessia! Se quiser mais dicas, fale com a gente nos comentários!
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