Visita ao Museu de Artes e Ofícios de Belo Horizonte

Seria o ofício uma arte? Ou a arte um ofício?

Foi a pergunta que me fiz após a visita ao Museu de Artes e Ofícios de Belo Horizonte, onde está exposta parte da história do trabalho no período pré­-industrial brasileiro.

Os objetos, instrumentos e utensílios utilizados por homens, mulheres e crianças de uma época não tão longínqua assim, fizeram ­me transportar à época de meus avós, e ver com outros olhos o que sempre me pareceu apenas um trabalho rústico e de pouca criatividade, em tempos de muita dureza e pouca poesia…

Não era. Havia poesia em cada mão que forjava o ferro no fogo das caldeiras, em cada renda que brotava dos dedos habilidosos daquelas mulheres, que talvez nem soubessem que estavam fazendo arte…

Havia poesia no “canto” das rodas dos carros de bois, nas máquinas de moer café, nas roupas dos tropeiros, nos cestos de palha, nas talhadeiras de madeira, nos potes de barro, e em tudo mais que um dia o homem concebeu e criou para viver melhor….

E magicamente, toda esta história foi deslocada de seu tempo e de seu espaço e recolocada em lugar de destaque, suntuoso e belo, bem no centro da cidade, mais precisamente no prédio da Estação Ferroviária, lugar histórico por si só, conservando a arquitetura magnífica de uma Belo Horizonte antiga e repleta de memórias… Que feliz ideia, estar ali, o Museu.

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Aberto ao público desde 2006, o MAO, está instalado bem ao lado da parada do metrô, por onde circulam milhares de pessoas todos os dias. Espetacular, porque sendo o metrô um transporte moderno, as linhas férreas no solo por onde ele circula parecem combinar perfeitamente com o local, dando impressão que a qualquer momento os antigos trens de passageiros por ali passarão e deles desceram as mulheres, homens e crianças que agora estão expostos em belíssimas fotografias em preto e branco, espalhadas pelo Museu…

É assim, um espaço coerente com a natureza da coleção, bem próximo do trabalhador.

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O acervo permanente é distribuído por uma área de nove mil e duzentos metros quadrados, em espaço que recebe ainda exposições temporárias, e contempla um jardim-­museu, áreas de convivência, café e loja.

O projeto museográfico inclui dois prédios, integrados por um túnel ,e as áreas externas próximas às plataformas de embarque e desembarque do metrô, que compõem as galerias expositivas, formando uma bela Estação-­Museu.

Completamente adaptado para atender às pessoas com necessidades especiais, exerce ainda desde a implantação sua vocação social, quando trabalhou com adolescentes em situação de vulnerabilidade, na preparação do acervo e na restauração dos prédios

O MAO abriga, desde 2008, importante iniciativa do Instituto Cultural Flávio Gutierrez (­ICFG)­ o Programa Valor Social­ que promove curso de qualificação para jovens na área de conservação de bens, tendo sido formados cerca de 150 alunos para atuarem como auxiliares de restauração.

 

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A coleção que deu origem ao Museu foi iniciada há cerca de 50 anos, e doada à União quando de sua implementação. Formado por peças originais e representativas dos mais variados ofícios do povo brasileiro, o acervo apresenta ferramentas, utensílios, máquinas e equipamentos produzidos entre os séculos XVIII e XX.

Impossível não me emocionar ao ver lindamente retratadas as histórias de meu pai e de meu avó, nos carros de bois, nos moinhos de fubá, nas esporas e celas de montarias…

Impossível não rever ali a minha avó, debruçada sobre o fogão à lenha, rodeada de panelas de ferro e pedra, e quase implorar a ela mesmo que somente na lembrança um gole de café coado dentro do bule esmaltado, repousando sempre à beira do fogão…

Esse museu mexeu comigo e me permitiu uma ampla reflexão sobre a História e as relações sociais do meu Brasil.

Informações práticas

Museu de Artes e Ofícios
Praça Rui Barbosa, 600 (Praça da Estação)
Tel:  31 3248 8600

Horário:
Terça e sexta-feira, de 12h às 19h
Quarta e quinta-feira, de 12h às 21hs – De 17 às 21hs ENTRADA GRATUITA
Sábado, Domingo e Feriado, de 11 às 17h – Aos Sábados a ENTRADA é GRATUITA.

(a bilheteria fecha 30 minutos antes do horário de encerramento do Museu. Após esse horário não é permitida a entrada)

Maíra de Freitas, dentista e bioeticista, em 2005 foi selecionada para participar de um programa do governo em parceria com o governo de Timor Leste para trabalhar naquele país durante um ano. Deixou para trás a família a carreira para se aventurar do outro lado do mundo. Hoje está de volta ao Brasil e é nossa correspondente em Belo Horizonte, MG.

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